Geração
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Fabulário analítico
para Aninha I O pano cercado de zelos a tarde estendida na copa o fio tecia o tempo a história guardada num fuso o fuso aguardando uma roca II era uma vez um pescador cansado de nada pescar (no pano riscado brotava o amarelo) pobre e com três filhos à beira do rio sonhou (o verde esfriava a paisagem) ou bem mais que um sonho era mesmo uma visão (rosa vermelha em destaque) lá estava a morte pescando lá na ribeira de lá (no meio das margaridas) quando a morte peixe pesca (abelhas gordas de dor) imagine a fome que há III pequeno pleno de medo preso no fio que tecia solto no embalo da voz na mão da irmã que bordava a vida carente de atos num rio cheio de nós IV guardada no morro atrás do horizonte maria escondeu a dor e a ponte do rio areava a cor do garimpo que limpo limpava os pés do menino a água sem fonte sem barco sem ouro perdeu sua ponte no alto do morro maria pousada recreio das águas de longe o garimpo areia as mágoas olhar o menino e ver a donzela pender-se do morro atrás da janela moldura de branco prisão de seu corpo que os olhos saltavam vivendo no porto por ter os cabelos cravados na terra maria dizia perdão a quem erra nas águas do rio ninguém se responde os homens trabalham garimpam a ponte V a mão que contava ligeira castelos de linha de cor cortava a sombra da tarde em riscos de pormenor VI tamanho era o amor da princesa tão grande como dedais nele cabiam assombros gigantes contos de duplos de infernos e catedrais VII mariana circundava o versado mas não ia respirava o respirado mariana era Maria tempo longo se nas águas continência desta esfera o fluir já se contava esperando quem se espera mar sonhando-se deserto ensinou-se desde o fundo que o distante é tão mais perto se no mar começa o mundo e maria veio à praia navegante em céu de estrelas chão que a noite a mão espalha guarda sol em seus cabelos no circundo de seus olhos mariém ou água em chama vêm do rio pescadores mar e porto mariana mas nos olhos se o mar ia mar em noite mar em si mariana mais que em via mar maria amar mari VIII uma tarde sentado na soleira da porta repetiam-se histórias de conquistas e glórias o horizonte era úmido de um olhar de comportas perguntava na boca pelo beijo da santa era maio e as flores davam nó na garganta IX Zé Pedro homem de ficar partia a parte os bens a terra o gado merecia quando cheguei do horizonte vim da noite carregado na luta quieta do monte rodei o morro encantado Zé Pedro chegou falante cantando o silêncio dura durante o sono cansava queria voltar pra serra fugir de vida tão pura correr no sangue do rio subir a escarpa da guerra dobrar a curva do frio quando chegasse atrasado no pronto corpo da terra Zé Pedro tocava na noite a ponta do porto de espera um dia cheguei como quem durasse por ribanceira rodando barranco abaixo no barco da cabeleira queria Zé Pedro a faca partir o rio pelo meio deitar a noite embrulhada no vazio de seu peito quando Zé Pedro a lua na boca da fome escondeu um barco rondou a rua o peixe no aquário morreu X a morte pescando peixe (cerca marrom em ponto cheio) é a pesca do fundo da vida (carneiros sonolentos em ponto cruz) riacho onde a morte pesca (menino com botina velha na ponta do anzol) é caminho que só tem ida (cerca carneiros menino: aprendiz de solidão) XI entrou por uma saiu por outra a ponte quebrou o doce caiu a história acabou não houve vitória nem guerra nem paz engasgado com chicória continua o leva-e-traz |