Metalurgia
|
Labirinto
Marcel Schwob, citado por Borges, inventou vidas e escreveu biografias imaginárias de homens reais; Borges, do outro lado do espelho, inventou caprichos e reescreveu biografias reais de homens imaginários. No sonho alheio de ser sonhado, enquanto sonha, o escritor afina imagens no abismo de suas multiplicações; o leitor ? o outro que é forma do texto ? guarda-se em entrelinhas aguarda outro leitor de carne, osso, ficção e história que abra um dia, mesmo por acaso, o mesmo livro e encontre na dura pena de tê-lo escrito a pálida, edificante e triste luz de que é feita a persistente beleza da memória. Nada, então, terá mais o tamanho de sua própria altura, nada medirá em si ou pelo outro a extensão de sua diferença: espadas, tigres, reis, vassalos e campeadores virão dilacerar a densidade conceitual do único, e a novidade ? monástica no hábito de ser estrada e tensa fingirá combates cinematográficos de guerras púnicas. Juntos escrevemos roteiros errantes por aridez de Espanhas e a vida repetirá a arte, só pelo prazer da ilusão de ser parte da boa vontade de deuses nus, entremostrados em longas vestes leves, discretos no tédio alado de inventar nas tardes sépia jogos eletrônicos banais e atrevidos de criação. |