Metalurgia
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Presenças de Vinícius
De tudo à tua ausência, por seres um e múltiplo serei atento antes, e com tal zelo, e sempre e tanto que, se te espedaças em vão contra o infinito, recolhem-se os fragmentos no teu canto que sempre se inicia e é sempre último. Por seres, pois, quem me foste um dia, sombra e luz, azul e branco, carnaval e cinzas, sugestão de amor, verbo, saciedade e fome, de repente se me afigura o verso, o samba, a namorada, o bar, em que sentado à mesa em boa companhia, conheci o poeta sem jamais ter visto o homem: o homem com seus sonhos de quem invejo os pares inveja dos seus deuses de quem desejo as ninfas. Na roda de cerveja, entre amigos e dilemas, como um Castro Alves na província ardente de seu coração, recitei retórico a sina do operário que erguendo a casa de sua liberdade construía alheia a própria escravidão; cantei o amor que tive e que não tive (e por isso dura) e porque era sábado ali me apaixonei pela mulher distante, leve e etérea como uma estrela longe, feita não só do mangue de carências longas e amarguras mas da pureza vaga e sensual do sangue dos poemas. |