Novos poemas
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Galateo
Se distante o amor tem estranhezas, de perto o amor brinca com o instante, cria a ilusão de que a vida tem certezas de que o que passa se reencontra no horizonte. Do que alcançam as dúvidas acesas, a água não impede o ímpeto da ponte que liga a imagem de antigas belezas à erosão da margem de um rio vascilante. Por desejar o amor ser mais que afeto, rompe ruidoso a resposta do silêncio com a eloquência de um olhar maroto, a elegância de um furtivo gesto de cortesia, como quem dispara balas de festim para assustar o incerto. Desejoso o amor de ser constante, esconde a intermitência de seus erros, jogando com um, contra outro amante, como se o acaso necessitasse os zelos do amador profissional já desarmado pela surpresa de que o mal destila o fel do bem da vida, separa da realidade a pessoa imaginada, e nela, o lance dos contrários que, juntos, lado a lado, confundem, em ledo engano, o amor, quem ama e a coisa amada. |