Geração
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O poeta é um sonhador
Ontem mais precisamente nesta madrugada tive um sonho como um fotograma vi um poema do começo ao meio e fim completar-se diante de meus olhos adormecidos e [atentos instantâneo de simultaneidades era um poema acabado inteiro fantástico montagem de inversões conceituais inusitadas armando o belo paradoxo que o fechava tão inesperado quanto simples e correta a sua linguagem sonhei depois que me acordara do sonho do poema quase nada retinha na memória que sonhada fugia de esquecer-se estranha num cubículo mesmo assim tive a vaga impressão de que no texto [corria a mobilidade dos corpos na terra o giro da terra no tempo o tempo fluindo estático no poema tudo pouco claro e sugerido muito mais mostrado do [que dito não sei por que sinal ali implícito lembrou-me o nome Galileu para o seu título tinha entretanto perdido o achado abatido pela fuga do poema sonhei que adormeci [novamente e novamente sonhei com o poema nele havia agora uns motivos de juventude e outros [encantamentos sociais que não estavam – segundo o sonho – no primeiro dessa vez fui mais profissional nas diligências da ilusão sonhei que ao despertar fui procurar um lápis e umas [pílulas na falta de papel contentei-me com umas etiquetas de [supermercado picotadas e pequenas como selos escuras e sem brancos aí anotei o poema que não me escapou nem sequer pelas [vírgulas adormeci feliz tendo ao lado da cama sobre o [criado-mudo o troféu de meus combates com o sono com as formas [com a noite com os temas lá estava enfim domesticado e vivo o poema dos meus [sonhos de manhã quando acordei tinha esquecido todos os [poemas |